Os múltiplos legados de Di Cavalcanti

Di Cavalcanti (1897-1976), um dos principais nomes do modernismo, foi um dos organizadores da fundamental Semana de 22, que deu novas linhas à arte brasileira. Viveu em sua cidade natal, em Paris e em São Paulo, e teve uma permanente pesquisa visual e conceitual acerca da identidade nacional.

É interessante lembrar que a Galeria de Arte André, que em 2023 já percorreu 64 anos de atividade ininterrupta no circuito paulistano, teve desde seus primevos anos ligação com o pintor carioca radicado em SP. À época dos festejos do 40º aniversário, o crítico e curador Carlos von Schmidt (1929-2010) já lembrara do período inicial da André e de tais conexões com o expoente modernista.

“Olho para essa bagunça generalizada e proustianamente volto ao Largo do Arouche. À Rua Vieira de Carvalho, 144. A Galeria André do romeno André Blau. Ficava entre o restaurante Rubaiyat e o hotel Itamaraty. Tinha tapetes da Pérsia e pinturas de Carlos Kossaki [sic], [Carol Kossak, 1895-1975], Durval Pereira, Inos Corradin, Clóvis Graciano, Flávio de Carvalho e Di Cavalcanti. Depois de almoçar no Gato Que Ri, costumava passar para olhar as pinturas de Di e do Flávio. Di vivia no edifício Três Leões, na São João [hoje com novo nome, edifício Leon Kasinski, na São João, nº 1086]. Do ateliê à galeria era um pulo”, escreve Von Schmidt no catálogo da exposição coletiva Quatro Décadas, em 2001, na galeria. “No Ibirapuera vivia-se a 5ª Bienal Internacional. Era 1959. Hoje, a André da Vieira de Carvalho faz parte da memória, da História da Arte e da História de São Paulo.”

Atualmente, depois da fartura de lembranças da Semana de 22 em seu centenário, é possível também nos remetermos a alguns momentos ora dramáticos ora alvissareiros acerca do legado do artista.

O drama pode recair na destruição da obra-prima Samba (1925), ocorrido no apartamento do marchand e colecionador Jean Boghici (1928-2015) em 2012. Carlos Zilio, em 1982, já discorre sobre a importância da tela. “Ao contrário do que fazia Tarsila, que destacava as formas e construía o espaço pela organização entre elas, Di Cavalcanti busca um outro caminho. A geometrização das formas por ele exercida não será suficiente para eliminar a divisão figura e fundo, levando-o a recorrer também à cor. De início, quase pela sua ausência, ou seja, buscando a integração pela monocromia. Posteriormente, a solução será o oposto, uma vez que procurará pela utilização crescente de uma intensa cromatização o efeito de unidade”, escreve Zilio. “Na tela ‘Samba’, de 1925, percebe-se uma transição entre essas duas soluções.”

 

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Samba , Di Cavalcanti - 1925

 

E a ‘ressurreição’ é mais recente. Os murais Samba e Carnaval (c. 1929-30, ambas), do acervo do teatro João Caetano, na praça Tiradentes, Centro do Rio de Janeiro, foram completamente restaurados e podem ser visitados pelo público visitante do espaço já em 2023. Na esteira da revalorização dessa faceta da produção de Di, exposição recente sobre o artista jogou mais luzes a respeito desse lado. Di Cavalcanti, Muralista ocorreu em 2021 no Instituto Tomie Ohtake, em SP, e a curadoria de Ivo Mesquita ressaltou os aspectos político-sociais e as obras públicas do artista.

A Galeria de Arte André tem no acervo dois belos trabalhos do artista: Carnaval (1954) e Sem título (1960). 

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Sem título, Di Cavalcanti - óleo sobre tela - 1960

 

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Carnaval, Di Cavalcanti - óleo sobre tela - 1954

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Galeria de Arte André
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