Ianelli 100 Anos no MAM-SP: para além da abstração

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A variada produção plástica de Arcangelo Ianelli (1922-2009) ganha destaque até maio no MAM-SP (Museu de Arte Moderna de São Paulo) com uma ampla panorâmica, com mais de uma centena de obras em variados suportes que ocupa as salas principais do museu.

Apesar de a abstração, a faceta mais célebre da produção do artista paulistano, ter destaque na antologia – Ianelli 100 Anos: O Artista Essencial não segue parâmetros cronológicos -, a curadoria de Denise Mattar optou por mixar trabalhos de períodos distintos por todo o espaço expositivo. Tal seleção revelou-se um acerto, como atestam os quase inéditos tridimensionais que enriquecem em muito a leitura sobre o corpus de obra dele.

 

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Arcangelo Ianelli, Vibrações - 1995

 

Interessante também é o conjunto da fase figurativa de Ianelli. Na juventude, aluno de Colette Pujol (1913-1999) e, na Associação Paulista de Belas Artes, de nomes que ganhariam prestígio a posteriori, como o santelenista Mario Zanini (1907-1971), tem sua fase inicial geralmente atrelada ao Grupo Guanabara, coletivo de artistas que inicia sua atividade em 1950. É o ano da primeira exposição de Ianelli, na Galeria Itá, Centro de SP, e, a seguir, a segunda incursão, desta vez no Rio de Janeiro, em mostra no Palace Hotel.

O Guanabara leva esse nome por conta de as reuniões na molduraria de Tikashi Fukushima (1920-2001), ocorrerem no antigo largo da Guanabara, Paraíso, que hoje não existe por conta da construção da avenida 23 de Maio e, posteriormente, pela implantação do metrô no logradouro. Lá, participa de atividades, mostras e fica próximo de nomes como o próprio Fukushima, Manabu Mabe (1924-1997), Jorge Mori (1932-2018) e Wega Nery (1912-2007). E justamente no recorte atual do MAM-SP, uma das peças que mais chama a atenção é Brahma (1954), óleo sobre tela de 70 cm x 58 cm que retrata o antigo conjunto fabril, hoje não mais existente, que marcou o Paraíso por muito tempo.

 

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À esq., Brahma (1954), tela de Arcangelo Ianelli atualmente exposta em mostra dedicada ao artista no MAM-SP / Crédito: Estúdio em Obra.

 

Frederico Morais, na publicação Ianelli – Forma e Cor (1984), que acompanhou grande mostra no MAM carioca, observa alguns traços ‘paulistas’ do agrupamento na produção do paulistano de família italiana. “Em todos esses temas [paisagens, marinhas, naturezas-mortas, entre outros] prevaleceu, sempre, a economia expressiva e um colorido um tanto triste, que teria algo a ver com a chamada cor paulista”, escreve Morais.

Em Ianelli 100 Anos, outro trunfo da curadoria é exibir crítica do essencial Giulio Carlo Argan (1909-1992) feita para individual de Ianelli em Munique, Alemanha, em 1966. “No caso de Ianelli, o fator dominante é uma evidente especulação sobre os valores proporcionais: é isso (...) que o reconduz à consideração das relações métricas e tonais entre os campos de cor, a uma delimitação geométrica mais marcada das áreas coloridas e à assunção delas como núcleos formais em relação à profundidade”, argumenta o célebre autor de Arte Moderna e História da Arte como História da Cidade.

A Galeria de Arte André expôs recentemente duas belas pinturas de Ianelli em Abstração em Fricção, coletiva com curadoria de Mario Gioia ocorrida em 2022, ocasião em que mestres do estilo já reconhecidos ladeavam nomes também incensados, como Frans Krajcberg (1921-2017), e emergentes, exemplo da pujante pintura da paulistana Julia Pereira.

 

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Telas de Ianelli (as duas mais à dir.) na mostra Abstração em Fricção (2022), na André. 

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Galeria de Arte André
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