Rio é fonte constante da visualidade brasileira

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    O Rio de Janeiro sempre foi um lócus importante para a arte brasileira, afora o fato de ser capital do país até 1960. Celeiro de grandes nomes da visualidade nacional, não poderia deixar de ser a cidade onde nasceram, se radicaram e se desenvolveram artistas hoje presentes no acervo da Galeria de Arte André.

    Um dos mais singulares e por vezes não tão reconhecido é Orlando Teruz (1902-1984). Em telas de sua autoria, aparecem algumas investigações caras ao olhar do artista, em especial as pequenas movimentações do dia a dia das periferias. São os moradores dos casarios em suas janelas atentos à vida das ruas, as simples brincadeiras da molecada nas vias de terra batida, as meninas a se divertir pulando corda. Carlos Heitor Cony (1926-2018) um de seus principais críticos, assim viu a obra do amigo artista: “As ruas irregulares, os personagens de sempre, o cavalo, o cachorro, o menino soltando pipa, a moça levando a lata d’água - tudo carioca, íntimo, sem a denúncia social óbvia de outros pintores mais politizados, mas a mesma simplicidade da paisagem brasileira urbana, com a sua pobreza assumida e resignada”, analisa o escritor em monografia sobre o artista datada de 1985.

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Orlando Teruz, O índio e o cavalo - 1995
 

    Enrico Bianco (1918-2013) é outro artista ainda a ser mais destacado por sua pulsante produção. Nascido em Roma, em geral lembrado pela função de assistente de Candido Portinari (1903-1962), começa a expor no Brasil em 1940, no Rio, quando assina a primeira individual com 39 telas no Copacabana Palace Hotel. No mesmo ano, exibe seus trabalhos na galeria Itá, em São Paulo. Nessas mostras, recebe críticas favoráveis de nomes importantes da intelectualidade, ativos naqueles anos, como Mário de Andrade (1893-1945), Afonso Arinos de Melo Franco (1905-1990) e Luís Saia (1911-1975). “(...) Aliás, nos desenhos de Bianco é que a técnica moderna dos franceses e principalmente o espírito, se apresentam de maneira especial. O jovem italiano expõe uma coleção de nus femininos que está entre as manifestações mais importantes e admiráveis da sua arte. É sensível nesses nus, não a influência propriamente, mas aquele realismo agudamente observador e sensual dos desenhos, por exemplo, de Rodin ou de um Dunoyer de Segonzac. Desenhos feitos a pincel e óleo muito diluído, Enrico Bianco já consegue neles, ao mesmo tempo que uma vitalidade, uma sensualidade, um peso naturalíssimo de grande caráter, também uma firmeza e sensibilidade de traço, uma graça, uma delicadeza notáveis e fatura”, destaca Andrade, em 1940, já ressaltando qualidades na emergente produção do artista.

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Enrico Bianco, Crianças com Pipas - 1998

    Dois mestres de gerações distintas também tem o Rio em seu centro de trajetória. Di Cavalcanti (1897-1976), um dos principais nomes do modernismo, foi um dos organizadores da fundamental Semana de 22, que deu novas linhas à arte brasileira. Viveu em sua cidade natal, em Paris e em São Paulo, e teve uma permanente pesquisa visual e conceitual acerca da identidade nacional.

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Di Cavalcanti, Carnaval - 1954

    Outro medalhão é Eduardo Sued (1925). Em sua trajetória como pintor, gravador, ilustrador, desenhista, vitralista e professor, o carioca estabeleceu uma relação única com a cor, a partir de uma linguagem abstrata. Passou muito brevemente pelo figurativismo e logo mergulhou em fontes como a Bauhaus, o neoplasticismo e desenvolveu sua própria trajetória dentro do movimento do construtivo e do moderno brasileiro. Foi aluno de nomes-chave da história da arte brasileira, como Iberê Camargo (1914-1994) e Henrique Boese (1897-1982).

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Eduardo Sued, Abstração Geométrica em Azul e amarelo - 2020

    Apesar de uma faceta expressionista e das naturezas-mortas de flores, a produção de paisagens é indubitavelmente o terreno em que Antonio Augusto Marx (1919-2008) mais exercia talento e habilidade. Por tal recorte de obra, o artista carioca que se radicou em São Paulo era considerado um dos grandes paisagistas na arte brasileira. "Marx é, sobretudo, uma paisagista. Um paisagista extremamente sensível, que nunca desenvolveu um clichê, um maneirismo, uma fórmula para interpretar toda paisagem da mesma maneira, como fazem alguns pintores, até de muito renome", escreve o crítico de arte e poeta Theon Spanudis (1915-1986) no ano de 1980.

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Dois quadros de Marx (esquerda) expostos na coletiva "André, 60 Anos - Da Academia ao virtual"

    Um espírito inquieto, de produção multiforme, dividido entre Brasil e Europa e conectado com movimentos artísticos de seus dias, como a nova figuração e o surrealismo. Assim pode ser sintetizada a trajetória de Armando Sendin (1928-2020), artista carioca, radicado em Santos por muitos anos e de família de origem espanhola. Participante de exposições importantes, como a 12ª e a 15ª Bienal de São Paulo, em 1973 e 1979, está presente em coleções de prestígio, em âmbito institucional e privado.

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Armando Sendin, La mer, magique fascination - 2002

    E nessa pequena apresentação, também pode ser citada a importante trajetória de José Moraes (1921-2003). A habilidade técnica dele na pintura e no desenho não passou à toa pelas três exposições individuais que protagonizou na Galeria de Arte André - em 1983, 1991 e 1994. E isso já se tornava palpável até em sua dedicatória na primeira mostra, quando relembra seus mestres, Quirino Campofiorito (1902-1993) e Candido Portinari (1903-1962).

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José Moraes, O Pano Vermelho - 1985

    Obteve os louvores acadêmicos como estudante da Escola Nacional de Belas Artes, no Rio de Janeiro, onde teve aulas de pintura com Quirino - um dos grandes defensores do figurativo e afeito aos tipos populares interpretados via pictórico, além de crítico de arte em importantes periódicos da época. Quirino também foi um dos expoentes do Núcleo Bernardelli, de nomes como Pancetti (1902-1958) e Milton Dacosta (1915-1988), um dos mais relevantes agrupamentos da arte brasileira do século 20. Já de Portinari, foi assistente a partir de 1942, trabalhando em obras-chave da cultura brasileira, como a Capela São Francisco de Assis, em Belo Horizonte, na mesma década. Moraes vai ser foco de uma individual na Galeria de Arte André, prevista para o primeiro semestre de 2023, com caráter retrospectivo.

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José Pancetti, Sem título - 2013

 

 

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