Entre artes e ofícios, centros e arrabaldes

Boa parte do mais avançado na história da arte brasileira foi construído por
mãos calejadas, oriundas de profissionais vindos de outros continentes – por
vezes longínquos, como a Ásia – e com atributos culturais bastante distantes
do que comumente se entende como brasilidade ou identidade nacional.
Esses operários da modernidade – título de uma exposição-chave sobre tais
artistas – criaram trajetórias hoje incensadas em mostras à maneira cubo
branco, com obras de valores robustos, porém tiveram de extrair a subsistência
de profissões das mais variadas e populares, como lavrador e açougueiro,
gráfico e ferroviário, por exemplo. Produziram obras em realçado
contrapelo a movimentos, tendências ou simples modismos que embebiam
os continuamente restritos circuitos da visualidade nas grandes cidades brasileiras.
Oscilaram entre a artesania e o experimental – este último mais
afeito a silenciosos arroubos de estilo e linguagem – e lograram êxito em comentar
criticamente a metropolização da urbe brasileira, com problemas socioeconômicos
à porta, mas não sem antes eternizar pequenas epifanias em
paisagens periféricas. No ateliê, não se furtaram a avanços, provavelmente
lentos, mas firmes na forja de poéticas singulares e, sim, alguns obtiveram
sucesso em círculos internacionais.

 

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