A densa abstração de Tikashi Fukushima

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A produção artística (em especial, a pictórica) de Tikashi Fukushima (1920-2001) condensa muito da trajetória dos nipo-brasileiros acerca da história da arte brasileira e, por que não, de alguns dos principais capítulos da acidentada trajetória das artes visuais no país.

 

A produção artística de Tikashi Fukushima condensa muito da trajetória dos nipo-brasileiros acerca da história da arte brasileira

 

Sem Título, 1987

Nascido em Sooma, Japão, trabalhou na lavoura, com desenho técnico e como balconista antes de perceber a vocação artística. Estabeleceu-se no Brasil, inicialmente, no interior de São Paulo, radicando-se em Pompeia e, depois, em Lins, para somente em 1945 residir na capital. Um ano depois, toma atitude decisiva para sua descoberta de carreira ao se mudar para o  Rio de Janeiro e trabalhar na molduraria de Tadashi Kaminagai (1899-1982), nome mais integrado ao circuito da época. Com experiência de artista na efervescente Paris daqueles anos, Kaminagai reunia na oficina de Santa Teresa nomes relevantes como Quirino Campofiorito (1902-1993), MIlton Dacosta (1915-1988) e Inimá de Paula (1918-1999). Em seu início. Fukushima transitou por uma hábil figuração, tanto no plano pictórico como no gráfico. Diferentemente de Kaminagai, o jovem enveredava por um cromatismo menos solar, mais denso.

 

Sem Título, 1989

 

"Seus quadros fragmentam-se muitas vezes em supostos episódios que variam do real ao onírico, do telúrico ao cósmico."

 

Em 1949, volta para a capital paulista, indo morar no bairro do Paraíso - são famosas suas pinturas retratando marcos da região. como a igreja Santa Generosa (hoje demolida) e a fábrica da Brahma. Ao seu redor, se formaria o que ficaria conhecido como Grupo Guanabara (por conta do largo onde ficava a molduraria do profissional recém-chegado), com artistas do porte de Arcangelo Ianelli (1922-2009) e Yoshiya Tamaoka (1909-1978).

Já em 1951, um grande passo para a biografia do artista e para o campo das artes no Brasil. A primeira edição da Bienal de São Paulo conta com a participação de trabalho de Fukushima, em mostra na qual figuravam Picasso, Morandi, Hopper, Max Bill e Goeldi, entre vários outros.

 

Água Marinha, 1992

Na década seguinte, seu estilo se consolidaria com uma adesão robusta ao abstracionismo, corrente na qual seria um dos grandes nomes no país. Cada vez com maior domínio da sua particular construção, expõe com regularidade no exterior e alcança prestígio no meio. "Seus quadros fragmentam-se muitas vezes em supostos episódios que variam do real ao onírico, do telúrico ao cósmico. Além disso, ele não se intimida em correlacionar áreas figurativas e setores informais", avalia o crítico Ivo Zanini (1929-2013) em texto do catálogo que acompanha a estreia em individuais do artista na André, em 1985. Fukushima ainda ganharia outras duas expos solo no espaço - em 1988 e 1997 -, além de participação em diversas coletivas e sempre presente no acervo da galeria.

 

Catálogo da exposição realizada em 1985

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