Darcy Penteado e o movimento LGBT no Brasil da década de 70

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O artista plástico Darcy Penteado (1926-1987) assumiu a homossexualidade publicamente na década de 70 e foi considerado um dos primeiros intelectuais brasileiros a defender ostensivamente a bandeira da luta contra o preconceito e a discriminação dos homossexuais.

Personagens Solitários em paisagem melancólica, 1987

 

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Em sua trajetória explorou diferentes suportes e materiais, como a pintura, o desenho e a gravura, o óleo e o grafite, e exerceu o talento da observação generosa da raça humana, sempre de mãos dadas com a ficção literária. Não teve medo de perder seu público mais fiel, colocando a própria intimidade a serviço da arte e da luta contra a intolerância. Com a mesma elegância e precisão, retratou o seu tempo, sem amarras. Personalidades da sociedade brasileira e personagens do universo considerado mundano e underground receberam o mesmo tratamento artístico. Em plena ditadura militar no Brasil, no final dos anos 70,  foi um dos fundadores do primeiro jornal voltado a lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais e simpatizantes (LGBTS), o Lampião da Esquina. A  proposta do periódico, que circulou de 1978 a 1981, era ajudar a desmarginalizar o homossexual, tirá-los do "gueto".

 

Em comemoração aos 60 anos do artista, a Galeria de Arte André realizou uma exposição individual de Darcy Penteado, em 1986. A pedido de André Blau (1930-2018), a mostra foi montada apenas com telas a óleo, diferentemente da configuração usual feita pelo artista, que reunia, além das pinturas, desenhos e gravuras. Na abertura, houve uma apresentação da cantora lírica Maju de Carvalho, com repertório nacional e internacional do que ficou conhecido como Belle Époque. Visualmente, a cantora interpretou o papel da Dama Negra, presente em várias obras do artista e metaforicamente simbolizando a figura da morte e sua proximidade. Darcy morreria um ano depois, em dezembro de 1987, vitimado pela Aids.

"Darcy pinta com primor a luva, mas sabe - e sugere - o tremor, o suor suspeito que essa luva esconde. Só que, com inteligência, sabe que não poderia dar-nos a mão em detrimento da luva ou vice-versa. Dá-nos ambas, fundidas em uma só coisa em que transparecem tanto as aspirações de pureza quanto as implícitas perversidades. E fá-lo com a mesma reverência ao signo oculto/transparente que os poetas têm. É um poeta. Um poeta de tristezas reprimidas e remotas insinuações de uma liberdade que nunca pôde ser viável", escreve o artista Chico Lopes no texto da individual na André.

 

 

 

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Galeria de Arte André
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