Da ancestralidade ao atual: arte indígena em questão

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O circuito de artes visuais, em consonância com variadas áreas de conhecimento, teve um interesse renascido pelas manifestações de diversas ordens dos indígenas. Assim, a arte feita nas diversas etnias e por nomes que retratam a singularidade do cotidiano e da cultura desses primeiros habitantes ganha cada vez mais espaço nas salas expositivas. Nesse sentido, pode ser citado que o Masp (Museu de Arte de São Paulo), um dos principais museus nacionais, elegeu as histórias indígenas como o foco do ano de 2023, com mostras, seminários e atividades acerca dessa temática. Além disso, Sandra Benites vem a ser a primeira curadora indígena em um museu nacional, atuando desde o final de 2019 na instituição. Outros artistas com tal origem, como Jaider Esbell, da etinia macuxi, de Roraima, e Denilson Baniwa, do Amazonas, têm exibido suas obras com regularidade em importantes exposições e centros culturais.

A Galeria de Arte André possui numerosas obras que tratam dessa temática. O fluminense Élon Brasil desde cedo já retratava em suas pinturas – por vezes óleos de grande escala – a bela paisagem humana e o rico dia a dia desses povos originais. Tal habilidade fez com que telas de sua autoria figurassem em acervos e coleções no exterior, como em Basel, na Suíça, país em que o artista morou por algum tempo. Na André, participou de várias exposições coletivas.

 

Ritual, 2014, Élon Brasil

 

Que flutua na água, Wamir Teixeira

 

Paulista de Palmital, autodidata (como Élon) e de origem indígena, Walmir Teixeira estrelou na André em várias oportunidades suas telas de grande domínio do abstrato e do cromático. Na individual Conexão com o inconsciente (1993), por exemplo, trabalhos como Adágio, Bateia e Navegante abrigavam enorme técnica acerca dos elementos pictóricos. Em fases mais recentes, o artista também utiliza a figuração.   

Nomes indispensáveis da arte brasileira também lidaram com a inspiração indígena. Victor Brecheret (1894-1955), figura de proa do modernismo brasileiro, produziu diversas esculturas a partir de conceitos de culturas como a marajoara, do Pará, já nos anos 40. Usando materiais como terracota, pedra e bronze, a produção migrou para uma síntese tridimensional que atestava sua maturidade artística, exemplar numa peça como O índio e a suaçuapara, que recebeu o primeiro prêmio de escultura nacional da 1ª Bienal de São Paulo. Brecheret conjugava com um dos principais eixos do modernismo, a busca de uma identidade nacional, e partia em busca de uma primeira imagética nesse território.

 

Maternidade, Luciano Mello Witkowsky

 

O paulista Luciano Mello Witkowski, hoje radicado em Bérgamo, na Itália, também funda sua produção tridimensional na figura humana indígena e em seu entorno, como os animais e a floresta. Ao lado da pintora Margherita Leoni, sua produção esteve exposta até o mês passado no festival Selvatica, em Biella, região do Piemonte. No espaço expositivo do Palácio Gromo Losa, o labor pictórico de Margherita e a habilidade espacial de Mello se uniram numa intervenção que trazia a hileia amazônica e suas pulsões vigorosas e próprias, hoje tão ameaçada por conta do contexto político, social e sanitário. 

 

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