Jenner Augusto e o hábil trânsito entre o local e o global
A habilidade de Jenner Augusto (1924-2003) no trânsito entre a natureza-morta e a paisagem abrilhantou boa parte da sua produção e certamente foi um dos trunfos nas duas exposições individuais que foram promovidas na Galeria de Arte André - em 1985 e 1987.
Marinha de Guaratiba, 1986
Expoente de uma pintura considerada regionalista, o artista nascido em Sergipe e que fez parte da intelectualidade baiana a partir dos anos 50 formou um corpus de obra que, seguramente, ultrapassou as leituras apenas locais. Dos vasos de flores multicoloridos aos barcos que planam em diques, das figuras esguias dos pescadores aos verdejantes contornos ao horizonte, Jenner se consagrou pela arguta observação e técnica, tanto em abordagens mais intimistas como nas marcadamente sociais.
"Em sua pintura, ao lado da maestria do artista, obtida em longo, duro e incansável trabalho, sente-se uma qualidade brasileira, marca original que lhe dá uma presença no tempo e no espaço, que a torna inconfundível: pintura de Jenner Augusto e de nenhum outro pintor", sentencia Jorge Amado
"Jenner Augusto, nascido na pobreza resultante do latifúndio, no pequeno Estado de Sergipe, fez-se artista na Bahia, pioneiro na arte moderna, pintor de suas paisagens e de sua realidade de beleza e miséria. Em sua pintura, ao lado da maestria do artista, obtida em longo, duro e incansável trabalho, sente-se uma qualidade brasileira, marca original que lhe dá uma presença no tempo e no espaço, que a torna inconfundível: pintura de Jenner Augusto e de nenhum outro pintor", sentencia Jorge Amado (1912-2001), consagrado escritor que foi forte interlocutor do artista nos seus anos em Salvador, junto do irmão James Amado (1922-2013), também literato e sociólogo.
Flores, 1986
"Sente ele a necessidade vital de amalgamar e aprofundar sua obra no calor e no espaço amordaçado do chão e da terra baiana, raízes de renovação e elementos permanentes em sua arte". Cicero Dias
Para Cicero Dias (1907-2003), outro nome incontornável das artes brasileiras, a predileção recaía sobre as paisagens do pintor sergipano: "É na paisagem que o sergipano Jenner Augusto encontra sua melhor forma de expressão (...) Jenner, porém, diferentemente não se contenta com o registro ou a análise; tampouco situa-se em estado experimental, este mal da época. Sente ele a necessidade vital de amalgamar e aprofundar sua obra no calor e no espaço amordaçado do chão e da terra baiana, raízes de renovação e elementos permanentes em sua arte".
E uma boa nova. Autor de painéis e murais, sua primeira manifestação de arte pública, óleo sobre parede com temas históricos de Sergipe que orna o antigo Bar Cacique, em Aracaju, teve as dependências restauradas. A peça de 1949 agora está protegida dentro de um espaço que virou restaurante e é gerenciada pelo Senac, em pleno Centro de Aracaju.
Marinha de Guaratiba
Flores
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