A Multiplicidade do Olhar de Inagaki
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A obra de Michinori Inagaki passou por diversas transformações durante seu percurso artístico. Participante de Bienais de São Paulo das décadas de 1960 e 1970, abraçou um estilo que retratava a natureza quase como um hiper-realista e que ostentava técnica apurada em suas pinturas a óleo. Um dos pontos altos na carreira foi a exposição individual na Galeria de Arte André, em novembro de 1979, com texto de Jacob Klintowitz.
Flor e Folhas, 1988, óleo sobre tela
"(...) Agora o seu espaço é o real, um espaço finito que tem os mesmos limites das coisas. O que obriga Michinori Inagaki a substituir o não-ser pelo ser. Desta maneira, este artista ainda jovem, de boa formação acadêmica, participante ativo das experimentações de vanguarda, dedicou-se a pintar, isto é, a criar objetos, ou seja, a estabelecer novos seres no seu espaço real. E o que pinta Michinori Inagaki?", argumenta o crítico no catálogo da mostra - publicações que acompanhavam o evento não eram tão comum naqueles tempos.
"O artista deseja observar e registrar a verdade da natureza. Evidentemente, esta verdade não é tão definitiva pois também a natureza existe em processo, em permanente mutação."
"Ele procurou a natureza, retornou ao princípio, às formas naturais. Desta maneira, Inagaki usa como motivo os modelos vegetais. A sua maneira de trabalhar procura a valorização do modelo e o estudo detalhado de suas particularidades. O artista deseja observar e registrar a verdade da natureza. Evidentemente, esta verdade não é tão definitiva pois também a natureza existe em processo, em permanente mutação. Mas o artista inicia a sua meditação sobre o ser e recolhe os elementos da natureza, segundo a sua observação mais imediata. Trata-se de um inventário, de uma verificação das coisas existentes. É a excursão na concretitude", avalia Klintowitz.
Folhagens, 1986, óleo sobre tela
Em trabalhos como Gerânio, Hortênsia e Areca, o artista nascido em Oita, Japão, sedimentou uma poética que se estendeu à produção posterior, com diversas obras no acervo da galeria. "O encontro tão próximo com André [Blau, 1930-2018, fundador do estabelecimento], confiante e realista em negócios de arte, foi um catalisador para mudar meu ponto de vista sobre arte", conta o artista, em depoimento de 2019 à crítica e curadora Maria Alice Milliet transcrito no livro comemorativo dos 60 anos da galeria.
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