NTFs, criptoarte e novas polêmicas digitais no mercado 

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No circuito internacional da arte, recentes acontecimentos acerca da comercialização de arte digital em NFTs (non-fungible tokens) causaram enormes polêmicas. 

Em leilão da Christhie's, a obra Everydays: The First 5000 Days, do artista e designer Beeple, foi arrematada por US$ 69 milhões. É o recorde de valor em leilão de um NFT e a terceira obra mais cara de um artista vivo, atrás de Jeff Koons (US$ 91 milhões) e David Hockney (US$ 90 milhões).

A obra consiste em uma colagem com 5000 ilustrações que o artista criou diariamente entre 2007 e 2021

 

 

"Algum dia vai ser uma peça de um bilhão de dólares"
Twobadour, que comprou o NFT “Everydays — The First 5,000 Days”, de Beeple, em leilão virtual da Christie’s

 

NFT, grosso modo, é um token que dá a propriedade sobre um produto único. São um tipo de escritura dos tempos digitais e de alta circulação de elementos novidadeiros, como as criptomoedas. 

Com o bitcoin subindo mais de 400% no último ano, emergiram milhares de criptomilionários. Essa nova casta investiu em variadas áreas, inclusive a de arte contemporânea. As vendas de arte digital dispararam de US$ 235.000 em fevereiro de 2020 para mais de US$ 60 milhões neste mês, de acordo com o site Cryptoart.io, que acompanha as vendas em seis casas de leilão. 

 

Instalação N°1 de Carlos Marcial

 

As reflexões acerca das NFTs são as mais diversas: há desde os que profetizam que seria o futuro, já alguns (que podem ser maioria) acreditam que não passa de uma bolha especulativa. Poderiam as NFTs vir a se tornar um capítulo de uma virada? Ainda não é possível dizer. 

Sobre o momento atual, precisamos reconhecer e ressaltar a importância do crescimento da arte digital como modalidade e como preferência para boa parte das novas gerações. Por sua vez, a segurança possibilitada pelas NFTs (por seu rastreamento via tecnologia de blockchain) resolve o problema da propriedade, mas é arriscado afirmar que será revolucionário.

O estilo, no que tange o formato, bem como na materialidade e na estética, não deve cair no gosto de colecionadores tradicionais. A temática das obras de arte digitais, em sua maioria, refletem a sensibilidade dos entusiastas da criptoarte - cenas futurísticas, memes, piadas e moedas. 

De acordo com o ensaio "Do que falamos quando falamos sobre NFTs" de Bárbara Mastrobuono publicado no editorial da SP Arte, a inserção da estética popular dentro do circuito institucionalizado da arte é algo que sempre existiu. A arte busca capturar o espírito de sua época. Talvez o surgimento dos museus de arte moderna na década de 50 tenha suscitado o mesmo nível de choque que sentiríamos hoje com a abertura de um Museu de Memes. "A compra e venda de 'arte virtual' na forma de memes em nada se difere das aventuranças de Andy Warhol com sua lata de sopa Campbell’s", aponta a editora.

 

Uma das 5000 ilustrações da collagem  Everydays: The First 5000 Days

 

De todos os problemas do mercado internacional de arte, as NFTs resolvem apenas um e apenas para uma modalidade de arte que está longe de ser majoritária no mercado. As NFTs resolvem a questão da autenticidade das obras de arte digitais, ou seja, garante que a pessoa que comprar será a única proprietária da imagem, sendo impossível no mundo haver outra pessoa proprietária da obra (embora nada impeça que ela seja reproduzida).

No entanto, não se pode reduzir a questão da arte a apenas uma autenticação. A dimensão da arte não se trata disso, embora há muito tempo as obras de arte tenham se tornado também ativos financeiros.

É perceptível também o choque de opiniões entre diferentes gerações. O ex-leiloeiro da Christie's Charles Allsopp disse que o conceito de comprar NFTs "não fazia  sentido". "A ideia de comprar algo que não está lá é simplesmente estranha", disse ele à BBC. Já a artista digital Drue Kataoka afirma que este é o futuro da arte e acrescenta que as casas de leilões em relação as NFTs mais parecem "alguém de meia-idade tentando ser legal mas sendo realmente estranho". 

 

A obra "Morons" teve o valor multiplicado por 4 vezes depois da queima

O artista Banksy, que tem protagonizado episódios polêmicos nas casas de leilões nos últimos tempos, não poderia deixar de surgir neste momento. Um grupo entusiasta da das NFTs adquiriu uma obra de Banksy por US$ 95.000 e a queimou em uma transmissão ao vivo no Twitter. Depois comercializaram a versão digital desta obra em uma NFT por mais de US$ 382.000. A operação não foi muito bem vista por boa parte do meio. O crítico de arte Ossian Ward disse à BBC que avaliou o ato como uma ação de baixo valor artístico. A porta-voz do grupo que organizou a queima, Mirza Udin, afirmou que foi uma expressão da própria arte.

 

Ana Maria Lima é jornalista especializada em arte e assessora de comunicação da Galeria de Arte André

 

 

Fontes

https://www.bbc.com/portuguese/geral-56371789

https://www.bloomberg.com/news/articles/2021-02-26/cryptocurrency-millionaires-fuel-a-boom-in-digital-art-market

https://www.publico.pt/2021/03/12/tecnologia/noticia/criptoarte-nao-faz-bem-planeta-1954085

https://www.artequeacontece.com.br/so-se-fala-em-crypto-art-e-nft-art-mas-e-agora-o-que-e-isso/

https://cryptoart.io/

https://www.sp-arte.com/editorial/do-que-falamos-quando-falamos-sobre-nfts/ 

https://dasartes.com.br/de-arte-a-z/empresa-queima-obra-de-banksy-para-transforma-la-em-original-digital/

https://www.terra.com.br/noticias/tecnologia/grupo-vende-arte-de-bansky-como-nft-por-us-382-mil-apos-queimar-original,f488b5d8fd11c025d3b6108d8ee0dd30o3u2c40t.html

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