Exposição traz mobilidade da produção visual de Sergio Ferro
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Até 15 de junho, o MAC-USP (Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo) sedia grande mostra sobre a trajetória de Sergio Ferro, hoje com 86 anos. É notável a produção dele como artista visual, arquiteto e ativista, tanto como autor de projetos de residências celebradas, de escala menor, e murais em locais de grande circulação, além de um corpus de obra profundamente singular na pintura.
São Sebastião (Marighella) | Acervo do MAC-USP
Artista de realização constante, teve individual na Galeria de Arte André em 2016, com texto e curadoria de Sonia Skroski. Atualmente, há diversas obras dele no acervo, algumas de grande escala, como Peintre Van Gogh Et Flute, de 81 cm x 200 cm.
“Nas suas telas, questiona conceitos de arte, como se o ato de pintar incorporasse, também e necessariamente, o ato de reflexão sobre a pintura e sobre a sua história”, escreve o crítico Fábio Magalhães sobre a sua obra, em 2012. Magalhães assina a curadoria da atual mostra, com a parceria de Maristela Almeida e Pedro Fiori Arantes. “Embora a linguagem, ao mesmo tempo que revela, também, oculta significados, seu propósito tem sido sempre o de construir percursos plásticos que aprofundem o conhecimento sem iludir o espectador.”
Peintre Van Gogh Et Flute, Sérgio Ferro - Óleo sobre tela
A retrospectiva apresenta pinturas, desenhos, esboços, tridimensionais, documentos, fotografias, filmes e maquetes acerca da obra de Ferro, além de trabalhos de nomes como Sergio Sister e Claudio Tozzi, contemporâneos em variadas fases do artista. Muitos dos itens vêm à luz apenas agora, depois de décadas em coleções e arquivos diversos.
“Formado pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP em 1961 e professor ali de história da arte até sua prisão, Ferro é exemplo de rigor no enfrentamento dos elos entre arte e trabalho, arquitetura e construção, do Renascimento à contemporaneidade”, escreve o professor da FAU-USP e diretor do museu, José Lira. “Sua crítica às relações de dominação e exploração na produção da arte e da arquitetura atravessa sua produção acadêmica e impregna-se em sua atividade política e artística: dos anos 1960, quando militava na resistência armada e integrava exposições antológicas das neo-vanguardas no país, como Opinião 65, Propostas 65 e Nova Objetividade Brasileira; até as décadas de redemocratização do Brasil.”
Transposição do escravo de Michelangelo, Sérgio Ferro - Óleo sobre tela
O artista paranaense tem fecunda atuação como arquiteto e professor. Nos anos 1960, faz parte do grupo Arquitetura Nova, com Flávio Império (1935-1985) e Rodrigo Lefèvre (1938-1984), em que a função do arquiteto no corpo social é fortemente discutida.
Foi autor de livros hoje clássicos como O Canteiro e o Desenho (1979) e Arquitetura e Trabalho Livre (2006). Por conta da atuação política, se radica na França nos anos 1970 e, em especial em Grenoble, desenvolve sua atividade didática, em paralelo com a de artista visual. Desenvolve robustos projetos de arte pública, como os instalados no Memorial de Curitiba e na Universidade Positivo, na capital do Paraná, e no presente hoje na estação Vila Prudente do metrô de São Paulo. “Mural não é quadro, ou equivalente - isto é, não é exercício de negatividade”, afirma ele.
São Sebastião (Lamarca) | Acervo do MAC-USP
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