O percurso singular e cromático de Kaminagai
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Dentro do escopo de artistas nipo-brasileiros, a figura de Tadashi Kaminagai (1899-1982) é bastante particular. Pelo trânsito intenso entre Japão, França e Brasil e as conexões que faz com cada cenário local, já traça uma personalidade rara nas artes visuais. Outro dado importante é a qualidade constante da pintura, espalhada na volumosa realização de paisagens, naturezas-mortas, nus e retratos.
Festa Nossa Senhora de Nazaré, Tadashi Kaminagai - Óleo sobre tela
Antes de se radicar no ano de 1927 em Paris, a cidade-chave de formação e desenvolvimento, Kaminagai tem percurso singular no país e continente natais. Passa anos em um mosteiro budista em Kobe e, mais tarde, é missionário e agricultor na Indonésia. Na capital francesa, alcança êxito com a atividade de moldureiro, tendo como clientes nomes que se tornariam históricos como o do marchand Ambroise Vollard (1866-1939) e de pintores como Dufy, Matisse e Bonnard.
Sem Título, Tadashi Kaminagai - Óleo sobre tela
Ao mesmo tempo, abraça o ideário da Escola de Paris como estilo pictórico. A habilidade técnica e o cromatismo mais vibrante foi possível de salientar em Um Círculo de Ligações – Foujita no Brasil, Kaminagai e o Jovem Mori, no CCBB (Centro Cultural Banco do Brasil) paulistano, em 2008, ano do centenário da imigração japonesa no país. Tanto nas paisagens de lócus icônicos do Rio de Janeiro como nas visadas sobre panoramas fabris em SP e naturezas-mortas e nus de qualidade muito grande, ainda hoje as pinturas do artista levam ao arrebatamento.
Véu de Noiva, Jorge Mori - Óleo sobre tela
O capítulo mais famoso de Kaminagai no Brasil se liga às ladeiras e estreitas ruas de Santa Teresa, no Rio. Lá, na lendária Pensão Mauá, fundou a molduraria que faria história na cidade, além de ser mentor de nomes que se tornariam relevantes nas artes plásticas daqui, como o de Tikashi Fukushima (1920-2001) e de Flávio Shiró, transcendendo os limites do círculo nipo-brasileiro. Em 1947, faz parte, sem uma frequência tão regular, do Seibi-kai, trupe paulistana que já vinha de 1935, com interrupções, e reunia nesse segundo momento Massao Okinaka (1913-2000), Tomie Ohtake (1913-2015), Jorge Mori (1932-2018) e João Suzuki (1935-2010), entre outros.
Sem Título, Tikashi Fukushima - Óleo sobre tela
“A pintura atual de Kaminagai, a qual sempre oscilou entre o pós-impressionismo e o expressionismo, está bem mais carregada de emotividade”, declara em 1977 o importante crítico Antonio Bento (1902-1988). Na Galeria de Arte André, a participação mais recente foi a tela Casario (1961), na coletiva Entre Artes e Ofícios, Centros e Arrabaldes (2019), com curadoria de Mario Gioia.
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