Último mês de Veneza consagra Pennacchi e artistas peninsulares
A 60ª edição da Bienal de Veneza, a mais tradicional mostra de arte em âmbito mundial, segue até 24 de novembro na cidade italiana e deve consolidar desdobramentos relevantes para o cânone da história da arte em âmbito mundial.
Um dos principais eixos da exposição foi a exibição de trabalhos de artistas italianos que se radicaram em outros países, principalmente durante a construção do modernismo nesses locais adotados e do Sul global. Intitulada Stranieri Ovunque - Foreigners Everywhere, a mostra apresenta 332 artistas e tem curadoria de Adriano Pedrosa, diretor artístico do Masp (Museu de Arte de São Paulo).
Desses, 30 são brasileiros. Há nomes históricos como Victor Brecheret (1894-1955), Di Cavalcanti (1897-1976), Tarsila do Amaral (1886-1973), Cicero Dias (1907-2003), Portinari (1903-1962), Maria Martins (1894-1973) e Ismael Nery (1900-1934), e contemporâneos, como a carioca Beatriz Milhazes.
O Circo, Fulvio Pennacchi - 1942, Óleo sobre madeira - Crédito: Naira Pennacchi
No entanto, o recorte da curadoria privilegiou nomes menos presentes em exposições do tipo, nascidos no país da Bienal e que desenvolveram obras importantes nos países em que se radicaram, como o Brasil, a Argentina e os EUA. Da seara nacional, sem dúvida podem ser destacados Fulvio Pennacchi (1905-1992), Danilo di Prete (1911-1985) e Maria Polo (1937-1983). A pintura de Pennacchi exposta é O Circo, de 1942. A contemporânea Anna Maria Maiolino, radicada em SP e nascida em 1942 na Itália, foi contemplada com o Leão de Ouro do evento, seu prêmio máximo (dividido com a turca Nil Yalter, nascida em 1938).
Aldeia, Fulvio Pennacchi - Técnica mista sobre tela
Pennacchi tem laços fortes com a galeria. Nascido na Toscana e nome que fez parte do grupo Santa Helena, composto por artistas nascidos ou com raízes fora do país, como Volpi (1896-1988), presente em Veneza neste ano, Rebolo (1902-1980) e Bonadei (1906-1974), radicou-se em São Paulo no ano de 1929, ano do crash econômico mundial. Em outubro de 1982, por exemplo, é com uma individual de Pennacchi que a galeria passa a ocupar o tradicional endereço da rua Estados Unidos, nos Jardins, SP. O artista teve recortes desse tipo na galeria, além do début solo em 1982, em 1984 e em 1987, todos quando estava atuante.
“(...) Penso que Fulvio seja, com Volpi, o pintor que melhor apresentou as pacatas reuniões de populares, as coloridas fachadas das casas, o encanto das igrejas, a lavoura, o comércio mascatesco, a meninada, os animais. Pennacchi é o pintor que compõe a vida interior (...)”, escreve o crítico Pietro Maria Bardi (1900-1999) em texto de introdução à retrospectiva de 40 anos de pintura do artista no Masp, em 1973.
Aldeia e Marinha, Fulvio Pennacchi - óleo sobre tela
Stranieri Ovunque - Foreigners Everywhere destaca como nunca a produção latino-americana – 114 dos 332 nomes são da região. Além dos 30 brasileiros, chama a atenção o forte acento argentino, com 16 nomes, entre contemporâneos como Mariana Tellería e Chola Poblete e históricos como Emilio Pettoruti (1892-1971), Clorindo Testa (1923-2013) e Elda Cerrato (1930-2023), que esteve na mais recente Bienal de São Paulo, no ano passado. Testa e Cerrato eram naturais da Itália.
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