A pintura que transita entre gêneros de Durval Pereira

A pintura que transita entre gêneros de Durval Pereira

A habilidade pictórica de Durval Pereira (1918-1984) é incontestável, com admirável técnica que passeou por gêneros distintos, como o da paisagem – deve-se levar em conta como se diferenciou nas suas marinhas e, em especial, nos registros das cidades históricas do país, como Ouro Preto e Salvador – e o da natureza-morta. Mesmo assim, sua produção ainda é negligenciada por parte da crítica de arte brasileira, talvez pela alcunha de ‘impressionista do século 20’ repetida sobre ele e por conta de o corpus de obra estar em choque com o mais visível em cada época – o fato de ser, por exemplo, um expoente da figuração quando o abstrato recebia mais luzes.

 

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Durval Pereira, Vista de Ouro Preto - 1968 

 

Décadas após a sua morte, com uma perspectiva menos enviesada, é possível perceber a grande qualidade dos seus trabalhos. A Galeria de Arte André possui mais de uma dezena de telas de sua autoria e em todas o labor é bastante perceptível. O conjunto de naturezas-mortas, para exemplificar, é admirável. Em Natureza-Morta com Lagostas (1962), Sem título, do mesmo ano, e Composição (s.d.), o mar e seus elementos ganham o foco da especial paleta do artista, que tira proveito da organicidade dos animais junto dos objetos domésticos, como panelas, pratos e garrafas.

 

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Durval Pereira, Natureza Morta com Lagostas - 1962 

 

Entre as marinhas, a André tem no acervo Pesca (déc. 1970), Cais (1977) e Atracadouro (déc. 1970). Em Pesca, há uma forte ambientação que emana solidão e um tempo algo suspenso; já em Cais, a fumaça escurecida que sai de uma chaminé ao fundo mais à esquerda indica atividade, mesmo que não haja figuras humanas. A configuração geométrica dos elementos da tela e a reunião de volumes, cores e texturas deles é que geram o interesse no quadro.

 

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Durval Pereira, Cais - 1977 

 

Na sua visada sobre as urbes históricas do país, a figura humana pode ser presente, como em Vista de Ouro Preto (1968) e Vista da Cidade Baixa de Salvador (1968). No entanto, de novo, é o conjunto de casarios, com telhados e outras coisas bem marcantes, ruas que ziguezagueiam e as belas perspectivas ao fundo dessas paisagens especiais que atestam a qualidade técnica e o imaginativo fazer pictórico do artista paulistano.

 

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Durval Pereira, Vista da cidade baixa de Salvador - 1968 

 

O pintor, que morava na Mooca (antigo bairro operário de SP), gostava de retratar uma comunidade próxima, com seus barracos e vias irregulares. Nas viagens pelo Brasil, conduzindo um Ford Landau, tirava muitas fotografias, que serviam de base para trabalhos posteriores. Fazia muitas pinturas in loco, o que gerava interesse dos moradores dos lugares que visitava, e não se furtava a retratar a variada paisagem humana desse continental território brasileiro.

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