Documentos atestam força da produção de Ebling
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Ao elaborar uma exposição de amplo escopo histórico como Matéria em Metamorfose – Sonia Ebling, Monográficas 6, um aspecto importante e por vezes não tão valorizado é a pesquisa no acervo documental do artista. No caso de Ebling, há uma fortuna crítica bastante numerosa acerca da produção da gaúcha, além dos itens que a acompanhavam em sua trajetória, como catálogos, fotografias, escritos etc. Dezenas de itens desse especial acervo são exibidos na retrospectiva de agora, que fica até 24 de junho na Galeria de Arte André, com curadoria de Mario Gioia.
Não deixam de fascinar até hoje as importantes contribuições de nomes como Maria Martins (1894-1973), Mário Pedrosa (1900-1981) e Walter Zanini (1925-2013), entre outros, em críticas feitas à época das mostras em cartaz da artista. Há, por exemplo, as sucessivas colunas Itinerário das Artes Plásticas, assinadas por Jayme Mauricio (1926-1997) no Correio da Manhã, cuja compilação revela a proximidade do influente crítico junto da ainda emergente artista. Foi nesse destacado espaço do periódico carioca que esses textos trouxeram, entre outras informações, as leituras bastante receptivas de nomes internacionais frente à obra de Ebling.
Uma relevante leitura crítica foi a de Denys Chevalier (1921-1978). O crítico francês, autor de monografias prestigiadas de nomes como Zadkine (professor de Ebling na França), Poliakoff, Poncet, Bott e Liner, publicou crítica sobre exposição de Ebling em 1963, na França. “Porque, com ela, o fator essencial de criação permanece o instinto, a sensibilidade, uma espécie de adivinhação, e dentro de uma certa medida, é menos pela aplicação de um método do que por uma espécie de milagre constante que a improvisação (lenta e penosa, em outros, muitas vezes) alcança os mais altos cumes da elaboração”, afirma Chevalier.
“Sonia Ebling é atração e é choque. Sua escultura de formas estranhas, telúricas, eróticas e puras consegue despertar, em quem as contempla, um mundo de recordações, de poesia, de tragédia, de alegria e de luminosidade”, escreveu Maria Martins, naqueles anos já uma prestigiada escultora, sobre individual da artista na galeria carioca Gea, em 1959. “De uma agressividade desconcertante e implacável, Sonia leva a agudeza de seu trabalho até o paroxismo da expressão”, continua Martins, em texto transcrito na coluna de Mauricio. Deve ser sublinhado que Martins ajudou Ebling na inserção dela no mercado internacional, já que ela tinha bom trânsito em circuitos renomados em âmbito mundial naqueles anos.
(Correio da manhã, 1959 - Jaime Maurício sobre Maria Martins para Sonia Ebling)
Para o decano da crítica de arte nacional, Mário Pedrosa, os relevos, presentes atualmente em Matéria em Metamorfose, são lidos em consonância com o lado pictórico de Ebling. “Suas placas em cimento são desta vez tratadas pictoricamente. Como sempre acontece com a escultura, o material – não se sabe – colocou perante à escultora um problema pictórico, e sua faina, pesada faina, é de extrair do cimento molhado gradações de tons próximos aos do afresco”, escreve ele em 1967.
(Relevo vermelho, Sonia Ebling - Déc. 60)
Cinco anos antes, Zanini, um dos nomes-chave na história da arte brasileira, também comentara a força dos relevos de Ebling, à época expostos na galeria Graffiti, em SP. “A maneira como suas mãos instauram a frágil e maleável trama de cimento, a delicada e sensível arquitetura de ritmos curvos, construção espacial em progresso elaborada com disciplina e imaginação, que foi objeto destas notas, está a merecer uma atenção muito particular da crítica empenhada seriamente nos problemas da escultura atual.”
(À esquerda e à direita - Walter Zanini)
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