O legado plural de Emanoel Araujo
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A morte de Emanoel Araujo (1940-2022), ocorrida no último 7 de setembro, joga luzes na importante trajetória do artista visual, curador e gestor cultural, entre outras atuações, nascido em Santo Amaro da Purificação.
Desde 2004 como curador-chefe do Museu Afro Brasil, instituição destinada a preservar, difundir e exibir manifestações culturais acerca da presença africana e afro-brasileira, Emanoel foi um bem-sucedido artista, com obras de distintas linguagens como a escultura, a gravura e a pintura, reconhecido tanto em âmbito internacional como no próprio país.
Emanoel Araujo (foto retirada do catálogo de sua exposição histórica
realizada no MASP em 1987)
Comprovam esse bom momento exposições recentes de fôlego sobre a produção do artista. Emanoel Araujo, A Ancestralidade dos Símbolos: África-Brasil ocorreu no Masp, em 2018. No recorte, cerca de cem obras, entre esculturas, gravuras e cartazes, foram apresentadas. No Instituto Tomie Ohtake, Autobiografia do Gesto, que aconteceu em 2007, textos de Agnaldo Farias, Roberto Pontual (1939-1994) e Jayme Mauricio (1926-1997), entre outros críticos de peso, fortaleceram o catálogo que documentou a mostra com mais de uma centena de peças a celebrar, à época, 45 anos de carreira.
O Masp já havia realizado exposição histórica com foco no artista, em 1987. Afrominimalista Brasileiro foi feita quando o museu paulistano ainda estava sob a gestão do histórico Pietro Maria Bardi (1900-1999). No catálogo da mostra, o crítico frisa: “(...) Emanoel é um arquiteto, num certo sentido, voltado à construção. Suas peças metálicas são obras moduladas com talento formal e destacam-se quando servem à arquitetura, ao nela se instalarem, dando relevo, integração e animação à parede”.
Emanoel Araujo, Abstrato - Sem data (obra exposta na coletiva "Abstração em Fricção"
realizada em 2022 na Galeria de Arte André)
Filho de ourives, Emanoel começou sua jornada no final dos anos 1950, ainda em Santo Amaro. Na década seguinte, vai estudar na Belas Artes da capital baiana, onde tem aulas com o medalhão Henrique Oswald (1918-1965), artista carioca que o influencia muito no lidar com a gravura. Nesses anos, trabalha com cenografia e ilustração. Já nos anos 1970, mergulha na fonte da abstração, em especial por suas vertentes construtivas, e delineia sua obra com forte lastro nas raízes africanas.
De 1981 a 1983, dirige o Museu de Arte da Bahia. De 1992 a 2002, reergue a Pinacoteca do Estado de São Paulo, sendo responsável pela grande reforma feita por Paulo Mendes da Rocha (1928-2021) no edifício e por exposições que levaram grandes levas de público à instituição, como a dedicada a Rodin (1840-1917), em 1995.
Emanoel Araujo era frequentador da Galeria de Arte André tanto como artista como colecionador atento às raridades disponíveis no acervo. Na coletiva Abstração em Fricção, terminada no último julho, foram exibidas uma escultura e uma gravura. Já como cliente, Emanoel tinha adquirido recentemente tela de Octávio Araujo (1926-2015), pintor que admirava.
Emanoel Araujo, Sem título - Sem data (obra exposta na coletiva "Abstração em Fricção"
realizada em 2022 na Galeria de Arte André)
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